quarta-feira, 2 de março de 2011

O Coração de Pedra

Coração de pedra
Jb.campos

Introdução à vida no cotidiano de um advogado paulista, entre milhões deles que vivem em qualquer capital do mundo, e na vida de qualquer profissional como fato verídico.
Uma réplica de acontecimentos, ocorridos no centro dessa centenária megalópole, e por assim ser, identifica-se com todos os seres humanos que presenciam fatos corriqueiros, de morticínios constantes, efetuados pelos crimes hediondos, paixões, e desamores, agredindo corações contritos de muitas mães, pais, filhos e enamorados...
Muitos jovens de hoje, nunca ouviram falar do crime da mala, homicídio passional onde seu autor esquarteja o corpo de sua amada e o coloca numa mala...
Há muito tempo, esse crime abalou a nossa querida São Paulo, bons tempos eram aqueles, pelos quais passaram gerações romanescas que à luz de vela, quiçá, lampiões de gás, volteavam pelas praças do centro da cidade, sem o menor receio dos dias hodiernos.
Alguns anos mais tarde, doutor Carlos Fragoso, honesto pai de família, resolve partir para uma vida desregrada, carregando um emaranhado de situações até jocosas em sua teia pegajosa do seu dia-a-dia, implicando muitos amigos e colegas de trabalho na sua inconseqüente virada de cabeça.
Um homem que parecia ser muito equilibrado, desanda em atitudes desconsertantes aos olhos da sociedade.

1- Carlos, o burocrata.

Carlos, um pacato cidadão, que não se prestava à violência urbana à qual pertencia apenas como morador circunstancial daquela região tumultuada e perigosa...
A violência naqueles dias já era grande no centro daquela megalópole, porém, incomparável com a de hoje em dia, onde residia Carlos e sua família.
Vivendo num apartamento confortável e compatível com seu padrão de vida, já que era um burocrata daqueles que vestem as camisas e doam até as próprias vidas pelo medo de serem descartados das empresas em que trabalham, como de fato, todos nós, na realidade valemos o que possuímos, portanto, se formos úteis, então seremos assediados pelos nossos empresários no sentido mais amplo da palavra.
E, Carlos não podia ser exceção, e estava sofrendo de insônia profunda, maquinando sempre uma vingança ao seu desnaturado chefe.
Não se conformava com o fato de ser empregado, cuidando de um departamento pessoal, com tantos cálculos a serem efetuados diariamente, ou locomovendo-se aos tribunais jurídicos na defesa de sua empresa, altercando sempre com os poderosos sindicatos, e aos reclamos de funcionários e companheiros de trabalho.
Assim fazia um auto juízo, dizendo-se burocrata, porém, odiava este verbete, pois soava-lhe como alguém que se torna escravo engravatado, e preso entre quatro paredes...
Casado com Sílvia há 25 anos, e com dois filhos homens, que estudavam na mesma universidade, no mesmo curso, e quase sempre na mesma série e classe, pois eram gêmeos idênticos...
Como diria o médico: univitelinos...
Carlos, há vários anos cumpria diariamente o mesmo e cansativo ritual, andava um quilômetro e meio para chegar ao escritório onde trabalhava, até porque, não podia fazê-lo de carro, por causa dos famosos calçadões do centro da cidade, bem, acostumara a fazer aquele trajeto por longos anos consecutivos, e atribuía aquela caminhada como fator preponderante à sua saúde de ferro.
Aquele condicionamento de muitos anos atazanava sua mente, e quanto mais o tempo ia passando, mais inseguro Carlos ficava, pois, a idade ia chegando, e o nosso protagonista entrava em depressão profunda, contraditando a sua tese de possuidor daquela saúde toda, de ferro.
Carlos era daqueles que guardava tudo para si, seu ego era repleto de poluição, já que o nosso amigo não extravasava seus desejos reprimidos, suas mágoas produtoras de toxinas, que deprimiam-no profundamente...
Bem... a nossa história caminha para o caos que a vida de Carlos rumava, e como o nosso próprio personagem, nada podemos, ou melhor: poderíamos fazer para impedir a sua desgraça.
Aqui vai uma adenda: às vezes o autor quer dar jeito às situações nas quais se enrascam seus personagens, mas, se o fizer, simplesmente acaba interrompendo a trama toda de suas escritas, e se não se cuidar entra de corpo e alma no enredo, atrevendo-se sobremaneira no traçado histórico de seus personagens...
A coisa estava ficando preta, com os nervos à flor da pele, ninguém imaginava o que poderia acontecer.
Ao nosso lado podemos ter alguém a explodir impetuosamente, violentamente, ou simplesmente a cair fulminado por um ataque cardíaco, que não seria pior do que acontecera com o doutor Carlos Fragoso.
Todos nós temos lá o nosso lado obscuro, com os reveses da vida...
Centenas de pessoas soturnas e solitárias percorriam ao seu lado todos os dias, aquele caminho em direção ao escritório, local onde aguçava sobremaneira os sentimentos de Carlos, principalmente o nefando sentimento de possuir a secretária do seu diretor, o famigerado Coração de Pedra.
Interessante é a solidão humana, quantos Carlos solitários percorrem um deserto com tantos seres humanos, como se fossem grãos areias abrasivas de um deserto escaldante, não se olham, não se cumprimentam, são pessoas frias como geleiras, de um Pólo glacial, onde formam desertos álgidos e cristalinos, porém, insulados como o centro de uma megalópole...
Bela secretária, com todos os dotes normais, que exige-se dessas profissionais, muitas vezes pelos safardanas empresariais, e diga-se de passagem, o desejo de Carlos estava mais para o da vingança do que para o libidinoso.
Era uma loucura que teria de arriscar, posto que, Gisele arrastava as asas para o seu lado...
Porém, se Clodomir percebesse alguma deslealdade, com certeza faria uma vingança maligna e profunda, como vinha agindo com muitos funcionários naqueles últimos anos ali na empresa, deixando Carlos estarrecido...
Em São Paulo, uma das maiores, e mais violentas cidades do mundo, na parte central da cidade era exatamente onde os fatos ocorriam.
O escritório de uma multinacional, era esplendoroso em modernidade, portas em vidros blindados que acionavam-se eletronicamente, eram a passagem diária de Carlos Fragoso, doutor Carlos Fragoso, causídico daquele departamento, pelo qual gerenciava o contigente de 14.000 funcionários, apesar de ocupar um cargo de destaque, estava frustrado por não ser um liberal com seu escritório de advocacia, como acontecera com alguns renomados colegas, que passaram pelas arcadas do Largo de São Francisco.
Bem... Carlos trabalhava muito, embora a informática começasse a vigorar naqueles dias de alta inflação econômica no país.
Com o cargo de assessor jurídico assessorava Clodomir, o então diretor jurídico.
Veja caro leitor como a vida tem fatos corriqueiros, que estão sistematicamente acontecendo no nosso cotidiano.
Por que existem pessoas dotadas de grande maldade, independendo de classe social?
Clodomir, "Coração de Pedra" era mefistofélico mesmo, e alegrava-se na desgraça alheia, portanto, o seu regozijo era desmesurado ao tripudiar sobre o seu próximo, e por ser maldoso, injustamente chegou ao cargo tão almejado de diretor jurídico.
A princípio mostrava-se muito cordial com Carlos, mas, com o decorrer dos anos, foi mostrando suas felinas garras maquiavélicas.
Toda história, ou estória tem de deixar bons exemplos de condutas ao ser humano leitor, sem a hipocrisia de ocultar-se os fatos, mesmo porque, "contra fatos não há argumento", e jamais esqueçamos; tudo na vida custa um preço.
A bem da verdade, "Carlos devia muita obrigação" ao doutor Clodomir Ribeiro, cresceram e estudaram juntos por muitos anos, iniciaram e terminaram os estudos; sempre nas mesmas classes e nos mesmos colégios etc...
O que fazia Carlos ficar muito apreensivo eram as atitudes atuais de Clodomir, jamais imaginava que o poder pudesse modificar sobremaneira as atitudes de um homem.
Com a mente estouvada, lembrava-se de um ocorrido lá nos bancos de escola primária, quando foi ferozmente defendido por Clodomir, ao arrumar um qüiproquó com um colega, que o chamou de pau de virar tripa, pois, era "sobejamente" magro...
Foram parar na diretoria, pois, o ocorrido foi bastante truculento, Clodomir atarracou-se ao pescoço do desafeto de Carlos e, se não fosse a intervenção do inspetor de alunos, com certeza Clodomir teria estrangulado o garoto, que era bem menor em relação ao seu avantajado tamanho.
Agora, Carlos começava a ligar os fatos de sua juventude em relação a Clodomir, que na realidade era quase seu irmão.
Ou seria mesmo seu irmão?
Seu pai, Sr. Azeredo, como era conhecido e respeitado cavalheiro da periferia paulistana, era uma pessoa muito especial, um profissional de primeiríssima linha.
Azeredo, era gerente de produção de uma tecelagem, e era realmente muito eficiente no seu trabalho.
Fora ali daquela tecelagem que Azeredo tirara o sustento à sua família, e o custeio do estudo do único filho, Carlos Fragoso Azeredo...
Carlos sempre recordava de fatos peculiares de sua juventude como o de Fagundes, um cara metido, "com o rei na barriga":
Acidentes acontecem, certa madrugada, toca a sirene da tecelagem e, Azeredo acorda aparvalhado, e sentando-se na cama, meio sonado e sopitado, e conjetura com a esposa:
O que será que aconteceu?
Mil coisas horrendas passavam pela sua encanecida cabeça, incêndio, explosão da caldeira, alguém preso em alguma correia, ou em alguma daquelas engrenagens gigantes...
Era Fagundes o causador de tanta euforia:
Bem, quem era Fagundes?
Fagundes, era cunhado de Fortes, e gostava de tomar umas e outras, era chegado numa cangebrina, como se diz na gíria e, naquela madrugada ele aprontara...
"Bebaço", escalou a chaminé da tecelagem, só de a gente olhar debaixo para cima àquela "Torre de Babel" dava para se cair ao solo, pelo atordoamento...
E de lá das alturas, à Ícaro dizia que ia voar.
Na bodega do Joca, que ficava nas imediações, fizera uma aposta de que poderia subir naquela chaminé, que não seria nenhuma façanha para Quinzote, o velho que vistoriava os faróis elétricos, e o pára-raios, e o pisca-pisca que lá existiam para se evitar acidentes aéreos e outros.
Acenderam-se todas as luzes existentes na tecelagem, e o aglomerado de pessoas fora bastante grande, aquela vizinhança toda, com algumas pessoas de pijamas, histéricas, e com lanternas apontando para cima, hipocritamente, pareciam desejar que Fagundes de lá saltasse.
A princípio, Fagundes fez uns alardes de homem corajoso, até que, começou a ventar fortemente, e aquele amontoado de tijolos antigos começaram a fazer um dança estranha, e o nosso amigo chegou a sarar da bebedeira pelo medo que, começava assolar a sua mente...
Sóbrio no sentido etílico, e inebriado pelo medo da altura, acompanhada das rajadas de ventos, era o início de uma tempestade, que metera-lhe enorme medo, então agarrou-se ao pára-raios, que não estava bem afixado à chaminé, e que dera uma inclinadela de uns 20 graus, que o fez soltar uma bela micção involuntária, ou melhor explicando: incontinência urinária, aumentando o chuvisco do aguaceiro que estava chegando, sobre aquelas curiosas cabeças humanas...
A vergonha era grande, pois, ali se encontrava a maioria dos funcionários da tecelagem, subalterna a Fagundes, que era apadrinhado do cunhado Antonio Fortes, conhecido por: Majoritário.
Não tardou chegar por ali, o salvador Quinzote...
Quinzote era contemporâneo de Fagundes, mas, existia uma diferença hierárquica entre aqueles dois homens: Quinzote era muito honesto e trabalhador, sendo um dos mais velhos funcionários da tecelagem, porém, um "simples" vistoriador, ou operador de manutenção, e Fagundes, apesar de tomar uns goles, era o diretor de produção da empresa.
Fagundes era tosco, apesar de engenheiro têxtil, tripudiou muito sobre seus tecelões, e inclusive sobre Quinzote.
Bem, para encurtarmos a história, Quinzote subiu até o pináculo, onde ouvia as petições desesperadoras de Fagundes, pedindo perdão, clemência e salvação àquele a quem humilhara uma vida toda lá na tecelagem.
A luta foi muito grande, para convencer Fagundes a largar do pára-raios, porém, a tempestade aumentava, enquanto, Quinzote a muito custo, convenceu o falso herói, que confessava ter um outro temor ainda maior, o de que o seu rival pudesse vingá-lo naqueles momentos eternos de aflição...
Aquele acidente mudou a vida daqueles dois homens, que tanto se odiavam e, agora passaram a se admirar mutuamente, e por aquele episódio tornaram-se amigos inseparáveis...
"Há males que vem para o bem."
O presidente da tecelagem chamava-se Antonio Fortes, também engenheiro têxtil com graduação no exterior e outras especializações, e tinha em Azeredo o comandante do carro chefe da sua indústria, o setor de produção que, às vezes suportava o seu diretor Fagundes, mas, que respeitava sobremaneira a capacidade de Azeredo.
Carlos tinha o maior orgulho de seu pai, pois, era muito elogiado pelos funcionários da empresa, que empregava aproximadamente mil funcionários.
As antigas máquinas funcionavam somente porque Azeredo estava sempre atento dia e noite às suas manutenções, era uma polia daqui, uma espoleta de lá, o tear de acolá, enfim, era solicitado nas mais incríveis emergências.
Ninguém tinha tanta autoridade como Azeredo ali naquela tecelagem, despedia ou admitia quem achasse por bem...
Era um homem precatado e meticuloso, profundo conhecedor de primeiros socorros, além de trazer no seu imo, o amor para com o próximo, sendo muito honesto e caritativo.
Quantos acidentados não foram salvos pelas mãos do mestre Azeredo...
Em cada máquina que oferecesse maior risco, Azeredo adaptava um dispositivo, que a qualquer momento desligava-a imediatamente, além de tocar um alarme na sua sala, indicando com uma pequena lâmpada com a respectiva cor da referida máquina onde se encontrava o problema.
Muitas vezes, apavorado corria para o local da máquina acionada, e nervoso, deparava com alguma brincadeira feita às escondidas, por algum espírito de porco. Acontece que, Clodomir Ribeiro Fortes era filho de Antonio Fortes.
Talvez por isto, Carlos fosse tão subserviente a Clodomir, até mesmo pelos fatos ocorridos na infância dos dois garotos, e se via o próprio pai na pele de assessor do antigo patrão.
Clodomir muito inteligente, galgou postos naquela multinacional e lembrou-se do não menos inteligente amigo Carlos, e o chamou para trabalhar com ele, logo após terem se formados etc...
Há quinze anos estavam juntos, ombro a ombro, mas, Carlos sempre reclamava à sua esposa Sílvia, de certas atitudes de Clodomir, que cometia alguns desatinos com seus funcionários, quando Sílvia insinua confessar-lhe algo que, realmente feriu profundamente o seu coração.
Veja caro leitor que, o nosso inimigo pode estar ao nosso lado, podendo ser até mesmo o nosso mais íntimo ente querido.
Continua a esposa:
Desde que casamos, Carlos, não fui com a cara do Clodomir, pois, um dia quando tiver a devida coragem, vou lhe contar o motivo...
Aquela conversa de Sílvia provocou uma celeuma muito grande, envolvendo até os filhos do casal.
Agora, Carlos queria saber o que havia acontecido, e começou a brigar constantemente com Sílvia, que de maneira nenhuma revelava o fato, e os jovens filhos apercebendo-se do ocorrido pressionaram os país que acabaram contando o que se passava, então os jovens passaram a querer saber também qual era aquele segredo, e Sílvia continuava naquela condição refratária, nada revelando.
Aquela cisma transformava-se em ódio mortal, já que, Clodomir havia mudado o seu comportamento com Carlos, sendo irônico e desdenhoso com o amigo mais antigo que possuía.
Depauperado, Carlos abatia-se, e Sílvia tentava contornar aquela situação, inventando alguma estória ao esposo, que não o convencia, e que, estava tornando-se obsessivo.
Alguma coisa dizia a Carlos, que algo muito grave estava oculto na sua vida e, não era pouco.
Estava mais maduro, e ligava fatos de antanho, lá da sua infância, e que o fizera tão próximo de Clodomir.
Clodomir freqüentava muito a sua casa, e sua mãe o tratava como verdadeiro filho.
Carlos começava a entregar-se paulatinamente ao vício da bebida, e desleixadamente faltou a algumas oitivas e consequentemente, alguns processos correram à revelia, e então o coro comeu.
Numa reunião, fora muito humilhado na frente de Gisele a bela secretária de Clodomir, aquilo fora humilhante mesmo.
Um fato ocorreu, Gisele, tomada de compaixão espera Carlos no seu caminho costumeiro de volta ao lar, onde dava aquelas paradas costumeiras nos bares, e insiste em acompanhá-lo, e ao defrontarem-se com uma "boite" das imediações, Gisele toma a iniciativa e convida-o para adentrarem àquele recinto.
Carlos na sua total carência nem pestaneja, e vai com tudo, era o que mais ele queria naquele momento.
Gisele penalizada, acaricia-o na penumbra do salão ao som de uma música romântica, e após alguns momentos prazerosos, Gisele diz ao pretenso amante:
Querido, como esperei por este momento...
Carlos correspondeu com o mesmo carinho, quando Gisele torna à fala:
Sabe, Carlos, nem sei como começar, pois, há muito preciso revelar um segredo sobre Clodomir e sua...
Naquele momento, ouve-se um estampido e uma bala perdida perfura o peito de Gisele, era mais um seqüestro relâmpago que fora reagido pelo segurança daquela "boite", que ao acionar o gatilho atingiu o coração apaixonado de Gisele, ferindo mais ainda o já tão amargurado coração de Carlos.
Três corpos estendidos sobre o ladrilho álgido do local, coloria de vermelho com poças salpicadas na mistura de sangue bom com o ruim, como se fora uma "transfusão" externa e emergente daquela sina macabra, sendo o do facínora seqüestrador, do segurança e o de Gisele que teve morte instantânea.
Polícias, escândalos, depoimentos e todos outros vilipêndios, colocou de vez Carlos na sarjeta do calçadão, por onde retornava todas as tardes e noites em direção ao lar.
Derribado, pedia forças aos céus, até que uma nobre alma, um psiquiatra que era seu amigo o internou por três eternos meses na sua clínica psiquiátrica, dando diariamente assistência àquele que era seu amigo.
Doutor Dario, diretor da clínica, devia um grande favor a Carlos.
Certa vez, Fred, filho desse psiquiatra, praticava um racha, uma dessas safadezas de desocupados irresponsáveis que ceifam vidas, sempre incitados pelas drogas, apesar de ter um pai psiquiatra...
Um dia feliz, lá nos seus dias de alegria, Carlos ao virar uma esquina bate de frente com Dario, pedindo desculpas e apercebendo-se pela vestimenta branca de Dario, a quem abalroara, tratar-se de um profissional da área médica, e desculpando-se ao médico, que estava irritadiço, até querendo agredi-lo, quando aproxima-se um policial fardado, amigo de Carlos e lhe diz:
Algum problema doutor Carlos, posso ser-lhe útil.
Era o Tenente Ribas, da polícia militar.
Não, está tudo bem tenente Ribas, estamo-nos conhecendo neste momento.
E, apresentado-se ao médico, que acalmou-se, dizendo:
Vamos tomar um café aqui nesta lanchonete, acompanhe-nos tenente Ribas.
Os três se conheceram e, o médico teve a coragem de revelar o que havia acontecido com seu filho que estava preso, ou pelo menos detido na delegacia local, onde Ribas estava destacado etc...
Sílvia advogava, e era muito benquista naquela jurisdição, e Carlos prontificou-se em ajudar o médico, e Ribas também cooperou com o possível etc...
O jovem fora solto, e a vida continuou até chegar a vez de Carlos ser ajudado por Dario.
Após a internação, Dario propôs a Carlos um tratamento mais prolongado, e que o faria até por gratidão ao ocorrido com o seu filho, assim foi...
Alguns barbitúricos, algumas horas de hipnose e tudo aquilo que diz respeito ao digno tratamento mental.
Quando no final do tratamento, pelo qual, Carlos já se sentia curado, Dr. Dario lhe externa o desejo de conversar um dia sobre sua infância e o seu casamento. Aquelas parcas palavras do médico mexeu novamente com a psique de Carlos que, entristeceu-se sobremaneira, pois, o fez relembrar da revelação de Sílvia que agora estava querendo o desquite, pelo fato de Gisele ter sido morta junto dele na "boite", e estava sendo apoiada pelos filhos etc...
O quê estará oculto, que ninguém quer me revelar, será que o meu subconsciente tem registro de algum segredo que me afeta tanto?
A paranóia tomava conta da mente de Carlos, pois, o segredo fora desvendado a tantos, e somente ele nada sabia a seu próprio respeito.
A fase mais aguda passara, e Carlos retorna ao serviço, ficando mais decepcionado ainda, pois, havia um substituto em seu lugar.
Bem, até aí nada de sobrenatural, pois, era tão somente retomar o seu cargo de assessor, e pronto.
Mas, Coração de Pedra já o esperava, literalmente com pedras nas mãos.
Bem, falamos de Gisele e esquecemo-nos de Clarice, uma senhora que era a secretária de Carlos, e que agora já não se encontrava mais na empresa, pois, fora despedida um ano antes de sua aposentadoria, coisas do doutor Clodomir, fato que chateou ainda mais a Carlos, que tinha em Clarice a própria mãe, conselheira nas horas tristes, uma confidente enfim...
Imagine-se o ódio mortal de Clodomir, ao deparar com aquele que estava naquela boite com a sua secretária-amante...
Aquele encontro foi amargo, muito amargo, novamente Clodomir pisoteou, tripudiou, espezinhou, abatendo o moral de Carlos, e foi além, prometeu tirar-lhe a vida, execrando-o do recinto etc...
Que situação...
Todas as pessoas mais chegadas de Carlos, agora estavam contra ele, até os seus mais queridos filhos.
Diante daquelas ameaças desferidas por Clodomir, Carlos pede conselhos ao tenente Ribas, que o concita a fazer um boletim de ocorrência.
Quando Clodomir foi citado a dar as respectivas explicações ao delegado, aí inflamou-se de vez, e o seu coração ficou realmente empedernido contra o seu ex amigo Carlos.
Dr. Dario, propõem-lhe mais uma internação, até para protegê-lo de um possível atentado por parte do iracundo Clodomir.
Coração de Pedra, foi à via de fatos, mandando alguém atentar contra a vida Carlos, lá no próprio hospital, ministraram-lhe uma dose cavalar de um remédio, desses para doentes mentais que, quase levou Carlos a óbito.
Mas, quem poderia ter acesso ao hospital, para tal façanha?
Pobre Dr. Carlos Fragoso, estava realmente no mato sem cachorro, o mundo virara-se contra ele.
Nos três meses de nova internação sofreu mais um atentado, e para sua surpresa, pegara o assassino.
Muito desconfiado, pediu ao enfermeiro que trocasse ele de quarto, mas que ninguém soubesse. Pediu também que não lhe dessem nenhum medicamento, e insone ficou à espreita e, numa madrugada viu alguém entrando naquele que seria o seu quarto, um pseudo enfermeiro, que desta vez aplicou uma dose letal injetável no boneco que o substituía naquele leito e, fora flagrado no exato momento do crime.
Para seu espanto, era Fred o filho do Dr. Dario a quem ele prestara aquele favor, e que alegou ter atentado contra sua vida em troca de droga ofertada por um tal "Novak", um elemento que ele disse não conhecer...
A polícia procurou "Novak", e não o encontrou, pois, era um elemento estranho ao lugar.
Dario com o filho preso, parecendo ironia do destino, pois, o jovem nunca quisera submeter-se aos tratamentos inerentes ao seu caso no hospital do próprio pai.
A loucura maior vem agora:
Sílvia amasia-se com Clodomir, enquanto Carlos estava internado, pela segunda vez...
Carlos enlouquecido, conjetura com seus botões:
Seria esse o segredo?
Mas, por que então, disse-me ela, não ir com a cara de Clodomir?
E Gisele, o que quis dizer-me antes de sua morte?
E, Dario o que insinuou quando falou de minha infância e de minha mãe?

2 - Acharam um corpo no matagal.

Começa uma nova novela, quando acharam um corpo trucidado, e com as características de "Novak".
Estaria alguém vingando alguém, e quem seria "Novak"?
Perda de tempo, apenas interrogatórios e mais interrogatórios e nada descobriram sobre aquele corpo, além dos estragos feitos no cadáver, pois, carbonizaram-no, mais uma indigência talvez...
Carlos em polvorosa, pediu a Estêvão, um colega de faculdade, amigo de turma, portanto, amigo também de Clodomir, que fosse até o Coração de Pedra e solicitasse a sua demissão da empresa, pois, queria sumir do pedaço.
Clodomir, sentindo-se afrontado distratou também a Estêvão, abusando da prerrogativa de estar substituindo o diretor presidente daquela empresa, que naquela ocasião encontrava-se no exterior, e não quis nem saber de conversa.
Clodomir era o solerte mentor do atentado contra Carlos, porém, não se deixava envolver, contratando uma máfia especializada no assunto, ficando ileso, desembolsando alto valor para satisfazer seu ego irascível e vingador.

3 - Os gêmeos: Carlos Júnior e Henrique

Fora do internato hospitalar, Carlos encontra o seu lar vazio, e fica pensando nos filhos, e na atitude que deveria tomar com relação a Sílvia, pois, o seu emprego estava transitando na justiça, posto que, Clodomir não o recebia e, quando dirigia-se ao departamento pessoal, ficava sem saída, já que, ali teria de tratar diretamente com o seu substituto, enfim era uma situação vexatória.
Assim sendo, contratou um advogado e ficou esperando o desenrolar dos fatos. Seus filhos, mudaram para um apartamento, que era mais um apertamento propriamente dito, e não queriam saber nem do pai nem da mãe.
Um fator importante contava a seu favor, seus dois filhos, estudavam, e trabalhavam e não tinham nenhuma espécie de vício, isto deixava Carlos bastante satisfeito, e sempre dizia: nem tudo está perdido.

4 - Tio Clodoaldo

Clodoaldo era tio de Carlos, sendo um pouco mais velho do que ele, e ao visitá-lo, disse que estava trabalhando nas imediações, pois, se estabelecera com uma consultoria financeira ali no centro nevrálgico da economia brasileira etc...
Carlos ficou contente com a visita do tio, que era irmão de seu pai, e tendo enviuvado recentemente, e não tendo filhos, foi convidado para morar ali com Carlos, posto que sobejava espaço naquele apartamento.
Clodoaldo, sem pestanejar aceitou o convite e passaram a compartilhar do mesmo espaço.
Clodoaldo, até para querer compensar o convite, retribuiu com um outro, convidando Carlos para trabalhar com ele na sua consultoria, e Carlos aceitou também, juntando assim, a fome com o desejo de comer.
Aquela parentesca amizade foi firmando entre dois contemporâneos, que faziam novas caminhadas, transitando a pé do apartamento ao escritório, almoçando juntos etc...
Clodoaldo, sempre na dele, era um cara bastante discreto, jamais metera o bedelho onde não lhe dizia respeito...
Mas, diante de tamanha vicissitude na vida de Carlos, vendo-o amuado, resolve compartilhar do seu sofrimento, porém, sabia ele muita coisa, e como revelá-la a Carlos, um sentimental e cristalino ser humano.

5 - Retrospectiva no paraíso verde

Após alguns meses de convivência, Clodoaldo vai tirar férias e, acaba compadecendo-se de Carlos, convidando-o a uma pescaria lá pelo estado de Mato Grosso, e assim lá se foram para ficar quinze dias numa bela pousada e tudo mais.
Nas barrancas do rio, de caniço e samburá, Carlos estava fazendo um bela psicoterapia, quando resolve perguntar ao tio Clodoaldo sobre sua infância e puberdade...
Clodoaldo não esperava tal inquirição e ficou em palpos de aranha, mas, foi bastante sincero ao dizer:
Carlos... Você tem certeza de que quer falar mesmo sobre isso?
Sim, quero e, peço encarecidamente que não me sonegue nada daquilo que você porventura saiba a meu respeito!
Sendo três anos mais velho do que você, não pude palmilhar os mesmos passos que você pisou, mas, acompanhei de perto os fatos ocorridos.
O que você quer saber exatamente, daquilo que você mesmo não saiba?
Fale-me um pouco de Clodomir, e de seu pai, Antonio Fortes...
Clodoaldo ficou rubro, e em seguida empalideceu diante daquela pergunta que, jamais esperava fosse perguntada.
Nossa... Que pergunta difícil você me faz, rapaz, não dá para você esquecer essa pergunta e me fazer uma outra?
Por que, o que há nela tão difícil de responder?
Na realidade, o meu santo nunca bateu com o santo do Clodomir, sempre o achei falso, apesar de ter de respeitá-lo como um pessoa da família, você sabe como é, né, ele sempre foi muito íntimo da nossa família, sendo considerado meio parente da gente, sabe...
Mas, o que é que há com esse cara que, ninguém fala dele abertamente, tornando-se uma incógnita na minha cabeça...
Esse traidor que me roubou Sílvia, meu verdadeiro amor, e a mãe dos meus filhos...
Carlos, você está aqui para espairecer a mente, vamos mudar de assunto, pois, não quero vê-lo infeliz, esqueça, vamos falar de outro assunto.
Aquele suposto descanso, estava tornando-se um verdadeiro inferno para Carlos, que fora até aquele paraíso verde para descansar, pois, estava em deletério profundo.
Aquela pergunta tornou-se contundente, pois, Carlos insistiu com todas suas forças, porém, Clodoaldo foi evasivo, tirando de letra, resvalando na sua prosa que, não convenceu Carlos, que de bobo não tinha nada.
Naquele dia a pescaria rendeu-lhes alguns pintados, peixe muito saboroso, na tarde daquele dia saborearam a sua deliciosa carne etc...
Difícil estava sendo para Clodoaldo evitar que Carlos bebesse, e tornou-se abstêmio na nobre causa de ajudar o sobrinho.
Naquele mesmo dia, no mesmo quarto da pousada, onde dividiam o mesmo espaço, assistiam televisão e, num desses programas sensacionalista, onde a hipocrisia campeia à solta, um apresentador chama ao palco uma senhora, que não conhecia sua única filha, era uma senhora religiosa e celibatária naquele momento, porém, de longa data também.
O sonho daquela mãe era realmente conhecer a sua filha, até para o desencargo de consciência, pois, no leito de maternidade, em conluio com uma das enfermeira, simularam um seqüestro do bebê, que viria ser criado em outro estado do país pela sua irmã abastada e que era estéril.
Há trinta longos anos, aquela religiosa sofrera quotidianamente por aquele sacrilégio e, pela fé em Deus esperava resgatar o seu erro de mãe desnaturada...
Bem... se aquela história era muito triste e emocionante, então pela apresentação daquele bom apresentador ficara fascinante, prendendo a atenção dos telespectadores.
Aquele definitivamente não era um programa para Carlos ver, pois, o apresentador fazia o suspense exato para aquele episódio de vida real.
Seria esta a filha de dona Marilda, apontando para alguém do auditório.
O que a senhora acha, seria porventura esta bela jovem?
Apesar dos seus trinta anos... Como é de praxe para se aumentar o ibope, e com certeza da rentabilidade comercial... aquele apresentador encerra aquela novela real, alegando ter estourado o tempo do seu programa, ficando o resultado para o dia seguinte...
Aquela noite foi para Carlos uma noite de profunda leitura, cumprindo até uma lei natural que diz: "O igual atrai o igual".
Carlos leu um pequeno livro, um romance, onde identificara-se profundamente com o personagem que, como ele fora traído pela sua amada, e tivera sua família destruída também, já que aquele varão era um caixeiro-viajante, ficando meses e meses longe da família, dando vazão à esposa para praticar o concubinato com um de seus amigos e acabaram por amancebarem-se por muito tempo, e assim, fazendo a cabeça de seus filhos apropriaram-se de suas amizades etc...
Como qualquer um de nós mortais vemos muitas coisas coincidirem, porém, desatentos deixamos passar importantes informações, até por ignorarmos este catártico e osmótico assunto virtual, redundando neste palavreado, somente para dizer a simples frase:
Deus está sempre nos mostrando o caminho pelo qual devemos andar, porém, relapsos não prestamos atenção, ou não queremos ver a verdade que às vezes dói...
Naquela manhã ao abrir a janela, sob o mavioso gorjeio de um casal de passarinhos, que aos amores saudava a majestosa manhã ensolarada.
Carlos meditou muito sobre a beleza natural do paradisíaco lugar, mas, incontinente veio à baila seus dias felizes junto de sua amada Sílvia que, agora encontrava-se nos braços de ferro do carrasco Coração de Pedra, seu rival Clodomir.
Mais um dia de entretenimento, e de perguntas insolúveis feitas ao tio Clodoaldo, que já estava arrependido daquele passeio verde, nas matas e águas daquele santuário natural.
Carlos não se continha ao esperar o horário do programa televisivo, no desfecho tão esperado daquela mãe desesperada a encontrar a filha que não via há trinta anos.
Estavam numa lancha alugada da própria pousada e, emprenhando-se no pantanal mato-grossense, acabaram atolando-se nos aguapés da daquele rio, correndo risco de morte, pois, não puderam retornar naquela noite, apavorados ficaram abraçados o tempo todo, com seus faroletes a alumiar os brilhantes olhos dos crocodilos que cercavam aquela frágil embarcação, ali pelas cinco horas da manhã chegaram os funcionários da pousada acostumados com tais situações, vieram socorrê-los.
Intrigado Carlos, queixava-se ao tio por ter perdido aquele final novelesco da televisão, e pediu a Clodoaldo que não o importunasse, pois, iria fazer um curto retiro debaixo de uns pés de cambará que circundavam a pousada.
Dizia Clodoaldo:
Venha dormir Carlos, passamos a noite acordados, deixe esse negócio de meditar, rapaz...
Ali pela hora do almoço acorda Clodoaldo e sai à procura do sobrinho, e o encontra aos plantos, sentado no chão debaixo de um cambará.
Chorava copiosamente, pois, adormecerá profundamente e em sonho terminara de assistir o desfecho do encontro daquela mãe com a filha, fato onírico, porém muito afetivo e sensível para quem estava com o coração quebrantado pela dor de uma separação.
Depois, menos inebriado pelo sonho, relatou-o, ainda emocionado, que naquele palco sob a égide do grande apresentador, surge por trás daquela mãe a filha que a surpreende aos plantos, e o animador do programa também tomado de emotividade encerra a sua apresentação, sem poder conduzi-la, sendo substituído por outro colega, enfim a emoção fora fantástica.
Acontecem certas coisas, que ficam encerradas nas memórias ocultas de nossos irmãos, e que são externadas de maneiras distorcidas, e nós impacientemente não queremos entender, desdenhando-as, pois, simplesmente não nos interessam.
Então somos pegos pela intolerância para com o próximo.
Deveriamo-nos colocar no seu lugar e sentirmos suas dores e compreenderíamos essas situações...
Apesar dos pesares, aqueles dias foram amenos, sendo que, Carlos saíra da rotina daquele burburinho citadino, daquele que é, um dos maiores centros movimentados do planeta.
Apesar de nostálgico, já estava pensando em não mais voltar ao nefasto local de sua residência, mas, sentia-se solitário, demasiadamente solitário e acovardado por esconder-se de uma situação ainda não solucionada.
Como enfrentar Clodomir, o Coração de Pedra?
Mas, e o maldito segredo?
Volta a instigar o tio:
Aldo, como era carinhosamente chamado, teve de aturar à duras penas a inquisição enfática de Carlos:
Aldo, pare de mentir para mim, fale a verdade sobre minha mãe, sua cunhada, pelo amor de Deus, e o desgraçado segredo sobre Clodomir, fale, estou ficando mais louco do que normalmente já sou.
Aquele palavreado de Carlos ficou até jocoso, como se pudesse ser louco-normal...
Situação esdrúxula, hilária ou estapafúrdia que nada mais é que, engraçada...
Clodoaldo já não agüentava mais aquela pressão alucinada de Carlos.
A consciência de Clodoaldo falava mais alto, pois, em análise profunda sobre a infância de Carlos chegava ao consenso de que, poderia acarretar-lhe enorme seqüela, ainda mais à quem já estava em deletério profundo, seria talvez o golpe de misericórdia, mas, não queria ser cúmplice de uma fatalidade sem retorno, pensava o tio Aldo.
Conjeturando melhor, percebia também que, o sofrimento do sobrinho poderia ser amenizado se lhe fosse revelado a causa de seu sofrimento.

6 - O retorno ao lar

Retornaram e, surpresos encontraram no apartamento, Sílvia, Henrique e Carlos, sua família, mas, ao contrário do que alguém pudesse imaginar, a reação de Carlos foi totalmente imprevisível.
Tomado de incrível paz, porém, sem prosternar-se, ou humilhar-se diante deles todos, foi firme:
Estou muito feliz por encontrá-los como velhos e conhecidos amigos, mas, não os considero mais meus familiares, apenas amigos, pelos quais, não nutro nenhum sentimento rancoroso, apenas os vejo como bons amigos, creiam estou aqui para servi-los naquilo que me for lícito e possível.
Sílvia, arrependera-se amargamente pela traição, os filhos reconheceram o erro da mãe, e o pai, friamente os recebia como amigos apenas.
Clodoaldo, não acreditava naquilo que estava vendo e, afirmava em voz alta:
Definitivamente, não sabemos quem somos, e do quê somos capazes!
Aquela face oculta de quem procurava com muita ansiedade saber o segredo que sua própria vida lhe ocultava, estava dando forças a Aldo para revelá-lo.
Sílvia era uma profissional com vida própria e, não necessitava de Carlos para sobreviver, mas, a dor do arrependimento da traição corroía-lhe a alma, e enfaticamente humilhava-se procurando o perdão, que não tinha certeza ter alcançado do coração de Carlos.
Esta era a resposta de Carlos a Silvia:
Não me vejo em condição de lhe conceder qualquer indulto, pois, nem a mim me perdôo, como teria autoridade para perdoar alguém, peça perdão a Deus, e fico aqui torcendo, de coração, para que você alcance o seu perdão.
Aquela maneira, pela qual, Silvia obtinha a resposta de Carlos, machucava ainda mais a sua alma.
Que enorme pecado havia realmente cometido, pois, tentava espelhar-se nos seus pais que, viveram cinqüenta anos de casados na mais plena paz e harmonia, e essa situação em que vivia era conflitante ao tecer essa comparação, e pior ainda para ela era o exemplo de seus irmãos, que viviam relativamente bem com apenas um só casamento.
Clodomir, tornara-se um verdadeiro déspota lá na empresa, e maritalmente com Sílvia ficara insuportável, autoritário, pedante, ciumento, agressivo, e até sanguinolento.
Apesar de odiar Clodomir, Carlos se conteve ao ver Sílvia com profundos hematomas pelo corpo, nem sequer perguntando o que havia acontecido com Sílvia, que de cara apresentava o olho direito todo arroxeado e, como antigo pugilista que fora, deduzia que ali expunha-se um soco chamado de: direta de esquerda, sabendo de antemão que Clodomir era sinistro, ou seja, era canhoto. Interessante disso tudo era que, uma das poucas coisas que Clodomir não quis freqüentar com Carlos na sua juventude foi a academia de boxe, condição que não impedira Coração de Pedra de nocautear Sílvia com aquele covarde murraço.
Bem, despediram-se do apartamento cada qual tomando o rumo de suas vidas.

7 - A consultoria

Aldo economista, e Carlos advogado, compunham uma sociedade na consultoria, Aldo em mercado de capitais, e Carlos em direito administrativo, e assim o tempo ia passando.
Os dias modernos iam se apresentando, e uma face nova no mercado aproximava-se, a terceirização das empresas.
Realmente as pedras rolam, e um dia elas se encontram.
Qual a surpresa de Carlos e Aldo, quando recebem um convite daquela multinacional, na qual Carlos passara longos dias de sua vida em acirrada porfia com Clodomir, para prestar serviços de terceirização com um belo contrato, que sem muita negociação fora fechado pela consultoria, pelo período de cinco anos.
Acontece que, a consultoria já tinha um certo nome que repercutia no mercado de capitais, e aquela multinacional estava passando por alguns percalços financeiros etc...
Clodomir naquela altura do campeonato estava com seus dias contados na empresa, onde ainda era diretor jurídico.
Quando Clodomir soube daquela contratação, e que fora feita pelo diretor financeiro com a anuência do diretor presidente, quase morre de raiva e tenta armar alguma em cima da empresa consultora.
Mas, enfraquecido nas suas artimanhas, pois, pesava-lhe sobre os ombros um processo criminal, sobre "Novak", aquele que fora achado carbonizado etc...
Pois, aquele crime insolúvel naquela época, vinha à baila recentemente, pois, Fred, Filho do Dr. Dario, por pura vingança, confessa, pois fora entregue através de um outro criminoso que pertencia àquela máfia, e não suportando a pressão confessa ser coopartícipe do crime do qual fora mentor intelectual Clodomir, que por sua vez incontinentemente manda liquidar Fred, que fora encontrado boiando sobre o leito mais horripilante do mundo o do rio Tietê.
Portanto, além de "Novak", estava sob suspeita do assassinato de Fred.
Enquanto esses fatos aconteciam, Aldo, às escondidas consultava o Dr. Dario, para averiguar uma possibilidade de revelar o segredo a Carlos que, volta e meia tinha suas recaídas psicossomáticas.
E, agora, após alguns anos, Sílvia sistematicamente vinha visitar Carlos, juntamente com seus filhos, e ele os recebia com muita educação, mas, aquela dor ainda persistia profundamente.
Clodomir era loquaz, portanto, como "bom" advogado continuava na empresa, mas, aquele processo e a sua causa tinha chegado aos ouvidos de toda a diretoria, que já o tratava com indiferença, e mais uma surpresa para Coração de Pedra, aquela diretoria fez uma reunião específica e com a presença de Clodomir, convocando Carlos:
Doutor Carlos, toda esta diretoria quer retratar-se diante daquilo que foi feito em detrimento de sua honrada pessoa.
- Diz-lhe o doutor Caio, presidente das empresas daquele conglomerado industrial.
Senti-me execrado de minhas funções, mas, são águas passadas, portanto, agradeço o reconhecimento que ora estou recebendo de vossas excelências, especialmente do senhor, doutor Caio.
Cabisbaixo assistia calado Clodomir, aquele vexame.
Depois dos encômios, ou dos elogios, o doutor Caio disponibiliza seus préstimos a Carlos, convidando-o para ocupar uma vaga na diretoria.
Carlos muito agradecido, desculpa-se, dizendo que não poderia deixar a consultoria, da qual fazia parte, e que lhe ocupava muito do seu tempo.
Clodomir fica tiririca de ódio, sabendo que estava sendo despedido, e por certo o convite a Carlos teria sido para ocupar o seu posto de diretor jurídico.

8 - Clodomir sofre um atentado

Na porta da saída executiva daquele majestoso edifício, que por sinal pertencia à empresa na qual Clodomir ainda trabalhava, ao sair pela porta de vidro blindado, depara com três automóveis modelo e marca: BMW, e meia dúzia de pessoas bem vestidas metralham Clodomir que, foi socorrido pelo ambulatório da própria firma, e logo em seguida sai pelo heliporto do prédio, no helicóptero do doutor Caio, sendo conduzido a um dos melhores atendimentos médicos, ficando internado em um dos melhores hospitais do país, ali das imediações, em estado grave.
As voltas do destino, que coisa impressionante, Dércio era o seu médico, grande cirurgião, que simpatizou-se com Clodomir, aliás, aquele médico era uma pessoa muito humanitária mesmo.
Clodomir necessitava de transfusão de sangue, seu sangue era de um tipo muito especial, raro, e agora, o próprio Dr. Dércio se envolvia emocionalmente com seu paciente e, providenciou alguém que pudesse salvar aquela vida, e pede a um seu cunhado que tinha aquele tipo de sangue, que viesse fazer aquela caridade, e foi atendido de pronto.
Foi feita a doação do sangue, e por simpatia a Clodomir, Dr. Dércio falou ao seu cunhado sobre aquele paciente, enfim, já no pronto restabelecimento de Clodomir, Dércio leva seu cunhado para conhecer aquele a quem salvara a vida doando o seu sangue...
Ao adentrarem o quarto de Clodomir, o cunhado sofre uma síncope, e cai quase desfalecido, sendo atendido rapidamente, foi um enfarto, mas, foi recuperado.
Dércio, fica agora apreensivo com aquele acontecimento.
Por que acontecera aquilo, justamente no momento em que adentrava o quarto do paciente a quem iria saudá-lo, desejando uma boa recuperação?
Dércio em visita ao cunhado que se restabelecia também, quis saber o que o afligira e, teve a surpreendente resposta:
Que desgraça, Dércio, aquele seu paciente é Clodomir o assassino de Fred, meu querido e finado filho...
Que chato Dario, logo Fred, garotão que muitas e muitas vezes peguei no colo, eu não podia imaginar, desculpe-me...
Conjeturaram:
"Que mundo pequeno"...

9 - A volta do vingador

Coração de Pedra, Clodomir, safa-se daquele atentado, mas, aquele homem era realmente contumaz em suas maldades, estava cego, talvez por espelhar-se nos líderes da humanidade desde àqueles lá dos nossos primórdios aos contemporâneos, sabia tudo sobre Napoleão Bonaparte, o francês que avassalou países, ceifando vidas, bem como sobre Adolf Hitler, outro líder e algoz europeu, bem, na realidade pode-se começar lá dos faraós e atingir os líderes militares e suas recentes odisséias.
Morador de bairro nobre, em uma mansão, onde além dos adereços normais de uma residência de classe alta, tinha um salão especial para reuniões, que comportava facilmente trezentas pessoas, e ali, pregava uma filosofia de arrepiar o couro cabeludo de qualquer mortal.
Não se sabe ao certo, mas, com certeza encabeçava uma facção ideológica na prática de muita crueldade.
Era admirador de líderes, e a eles fazia muitos encômios, sem distinção, bastava que esse líder obtivesse poder, aí sim, esse líder era um super ser, com inteligência privilegiada.
Fazia discursos inflamados, principalmente sobre generais como: Eisenhower, general americano, "O Libertador da Europa" - comandante da maior invasão de que a história dá notícia: a da Normandia, golpe de misericórdia dado no ideal pangermânico de Hitler, cujo herói de Clodomir, fora também um dos presidentes dos Estados Unidos, e chamava-se: Dwight David Eisenhower.
Em contrapartida fazia alusões ao Marechal-de-campo, o alemão: Von Rommel, um dos mais notáveis estrategistas do nazismo, que no Egito fez os ingleses recuarem, depois de capturar Tobruk em sanguinolento combate.
General Montgomery que, após muitas vitórias, foi galardoado com título de Visconde de El Alamein pelo rei Jorge IV, título este, ligado à sua maior vitória que leva o nome dessa cidade.
A assim falava de Timoshenko e de De Gaulle - militares russo e francês, suas palestras eram aulas de histórias bélicas e não um discurso propriamente dito.
De volta às atividades, tem sede de sangue e vingança, e sai à cata de Carlos, esse cara tinha a consciência cauterizada, é a classificação que se pode fazer à uma situação mental sine qua non, ou seja: mente queimada, vendada, cega, realmente imutável, sem enxergar um palpo à frente de seu nariz.
Fato corriqueiro, pois, se perguntarmos a qualquer bandido sobre a sua conduta, ele irá com certeza justificar a sua razão, ou seus motivos de sê-los!
A dado momento, numa festa de confraternização profissional, onde encontrava a turma de formados em direito, da qual, participavam Carlos e consequentemente Clodomir, foi o maior vexame, juizes, promotores, e até um procurador, obviamente com muitos advogados etc...
Era uma festa grandiosa, não fora o novo atentado, agora pessoalmente com arma branca.
Com instinto de açougueiro, com todo o respeito à dignidade que essa classe profissional se nos merece, lá estava o propositado Coração de Pedra, portando um punhal forjado em aço sueco para assassinar seu rival maior, Carlos Fragoso.
O desfecho foi violento, Clodomir apunhalou Carlos em frente àquela platéia, e com toda aquela testemunha, foi preso em flagrante delito.
Mais uma internação, Carlos mais uma vez se livra da morte e, convalescente medita profundamente sobre Sílvia, Carlos Jr. e Henrique, seus filhos que, aparecem em constantes visitas, e com muita afeição ao pai.
O segredo vem à baila, e pensou ele na próxima oportunidade, com a certeza de forçar o tio e sócio Clodoaldo a revelar aquilo que mais amargurava o seu pobre coração.
Fora apunhalado abaixo do ombro direito, talvez até pelo simples motivo já aventado de que Clodomir era canhoto, bem, seus ligamentos nervosos nas imediações da axila, foram bastante afetados, e pós operado, jamais deixou de sentir seqüelas que lhe traziam a macabra lembrança daquele que fora seu maior amigo, Clodomir - Coração de Pedra.

10 - Os gêmeos aspiram vingança

Carlos Jr. e Henrique maquinavam uma vingança atroz para Clodomir, a quem conheciam bem, já que conviveram nas suas infâncias bem perto do tio Clodomir, como chamavam-no com muito carinho.
Os jovens cibernéticos, pois, escolheram o estudo da engenharia de computação, e estavam bem empregados, mas, estavam cansados daquela situação, pela qual o pai passava há muito tempo, com o envolvimento da mãe e tudo mais.
Como bons gêmeos, não se largavam, um era a sombra do outro.
O que fariam os irmãos para vingar o pai?
Jr. diz a Henrique:
Sabe Rique, estive matutando, e muito, sobre o nosso pai, ele é um cara muito especial para mim, você agora pode ver o que a nossa amada mãe aprontou com ele...
Justiça seja feita, ela foi uma vaca, e não venha defendê-la, ela realmente enxovalhou o nome da nossa família, logo com esse sacripanta...
Clodomerda... Replica-lhe Rique:
É... Jr. não posso ser contra a sua postura diante das ocorrências, você está com toda razão, mas, quanto à mamãe, não seria inteligente chorar o leite derramado, vamos botar um pedra sobre o nosso sentimento, e vamos pensar no momento atual.
Que atitude tomar em relação a Clodomir, pois, com absoluta certeza, ele não vai sossegar enquanto não destruir a todos nós, rapaz...
Você se lembra Jr. da casa de massagem?
Sim, foi muito gozado aquilo, poxa...
A casa de massagem, referia-se a uma malandragem dos garotos, quando recém formados, Rique foi até um local muito requintado, onde aplica-se a famosa massagem "for mam", com o pagamento antecipado, já no meio da massagem, Rique pede para ir até seu carro para pegar um objeto qualquer, dizendo, que num pequeno instante voltaria etc...
Só que, quem voltou com suas parcas roupas foi Jr. que terminou aquela massagem em seu lugar.
E aí recordaram das falcatruas que aplicavam nas provas, nas quais sempre quem as fazia era Jr. sendo o mais aplicado em determinadas matérias etc...
Isto quando não coincidia de estudarem na mesma classe e obviamente no mesmo horário. Eram muito semelhantes que, às vezes confundiam os próprios parentes.
A trama agora seria de muita de sofisticação, maquinavam a vingança do pai, era um negócio cabeludo, muito sério mesmo...
Que fariam eles para conter a fúria de Coração de Pedra que, logo estaria em liberdade?
E, pior ainda, lá de onde estava enclausurado em uma cela especial com muito conforto, poderia mandar matar quem ele quisesse, pois, tinha muito dinheiro e muita influência, era realmente um poderoso déspota da sociedade, que logo ficou livre, como é aplicada a nossa justiça...
Chegou o dia da vingança para tirar a vida de Clodomir, tramaram uma maneira ao mínimo curiosa para o assassinato de Coração de Pedra.
Como milhares de citadinos, Clodomir possuía um sítio nas imediações de São Paulo e, de quando em vez, estava passando o fim de semana no seu paraíso, era um lugar aprazível, muito agradável mesmo.
Na cabeça dos jovens que se julgavam muito inteligentes, aquele crime haveria de ser perfeito.
Como fariam para não deixar nenhuma suspeita?
Após estudarem com profundeza aquele assunto, com a ajuda de um perito em bombas, um oficial aposentado do exército, cuja filha havia sido socorrida pelos irmãos gêmeos em um desastre, enfim esta é mais uma longa história, que fez aquele oficial ficar devendo aquele favor aos rapazes.
Pedem para o capitão Euclides, algumas aulas sobre explosivos, e como acioná-los e até desativá-los.
A priori, Euclides ficou assim meio desconsertado, dizendo que, aquilo não seria muito ético para ele, e perguntou sobre aquele interesse dos jovens sobre o assunto, e os irmãos foram lacônicos, estamos a fim de pegar um ladrão de carro que, tem tentado roubar um dos nossos carros e já por três vezes consecutivas e, queriam explodir o carro com ladrão e tudo, nem se importando com prejuízos...
O capitão, que houvera sofrido humilhações contumazes nas mãos de uma quadrilha, que seqüestraram-no, somente porque fora pego de surpresa, e disse ser um oficial, os meliantes não deixaram barato e, imobilizado fora vilipendiado, e até cometeram o desatino horrendo de estuprarem sua esposa e a dita filha do respectivo desastre, no qual participaram os jovens gêmeos ao socorrê-la.
Euclides relembrando os fatos se dispôs a ensinar os jovens, e relatou aquele ocorrido, que acabara com a sua vida, e confessou com os olhos marejando, que fora internado por seis meses, e que havia tentado até o suicídio, por causa daquela desgraça, e rematou; faço qualquer coisa para poder matar um bandido.
Um belo dia, Clodomir dava uma grande festa no sítio, onde participavam mais ou menos trezentos convidados, Jr. que se tornara um perito na confecção do escabroso artefato bélico, adentrou à festa disfarçadamente imiscuindo-se entre os convidados, chegou até o carro de Clodomir e colocou nele uma bomba, que seria acionada por controle remoto e, à espreita, quando Coração de Pedra deixava o local, com mais três amigos, a quinhentos metros da porteira, bum...
Carlos ao saber do ocorrido, ficou aliviado e até comentou com a família, sinto muito, mas, se não fosse ele, seria eu.
Aquela conversa mexeu com Clodoaldo que participara do papo.
Teria Carlos cometido alguma loucura?
O crime teria sido perfeito se um outro fator preponderante não houvesse acontecido.
Clodoaldo cismado com o fato, pensou muito sobre o assunto e, chamando Carlos, o indaga:
Carlos você se lembra do seu sofrimento sobre aquele segredo?
Eu não só me lembro como a todo instante sofro por isso!
Pois bem, vamos reunir toda a nossa família e, revelarei o segredo, somente espero que você possa resistir...
Pense bem, você quer mesmo saber?
Com certeza, mesmo que tenha de sofrer com a minha própria morte, ainda assim; é o meu último sonho!
Pressa pra quê?
Coração de Pedra já não mais oferecia risco a ninguém.

11 - O segredo é revelado

Marcaram a reunião familiar, aquilo não parecia que ia ser uma reunião, e sim uma preparação para um cerimonial muito sério.
A bem da verdade, alguns segredos foram revelados.
Reuniram-se: Clodoaldo e mais dois de seus irmãos: Joaquim e Cícero, que eram mais velhos do que ele, Carlos, Carlos Júnior, Henrique e Sílvia.
Clodoaldo inspira fundo e começa:
Serei breve, até porque, não é hora para sensacionalismo:
Prestem bem atenção, o que queremos revelar aqui é muito importante para a família toda, e principalmente a Carlos.
Carlos, Clodomir era seu irmão legítimo!
Extático, exclama Carlos:
Mas, como?
É verdade, tanto que trouxe meus irmãos como testemunhas da verdade, que sabem que este é um fato verídico.
Clodomir era um ano mais velho do que você, e seus pais encontravam-se em uma situação periclitante, estavam até mendigando o pão, desculpem-me, mas, há somente esta forma de contar-lhes a verdade "verdadeira"...
E Clodomir nasceu no casebre de madeira onde o seus pais moravam.
Antonio Fortes e sua esposa não podiam ter filhos e, tomaram a responsabilidade de sua família para si.
Antonio Fortes, já era um homem muito rico, e trazendo o seu pai para trabalhar na sua tecelagem, levou sua mãe também para tomar conta de sua casa e, consequentemente ficar perto de Clodomir, seu irmão mais velho.
Clodoaldo deu uma pausa para ouvir o que Carlos, que, estava com os olhos rasos d'água dizia, e disse:
Clodoaldo; eu desconfiava de alguma desgraça oculta na minha existência, mas, jamais esperava que fosse tanta...
Bem, ao menos agora dá para você entender o por que de você ter sido tão ligado a Clodomir, por incrível que possa parecer, ele sabia dessa verdade, e nunca lhe revelou, porém, um espírito muito maldoso conservou-o até o final triste em que teve com a explosão de seu Mercedes Benz.
Henrique, não suportando o peso em sua consciência desabafa:
Pois é, mais uma surpresa, foi eu e o Júnior quem explodimos aquele veículo para vingar essa desgraça toda, estamos arrependidos por matar o nosso tio, irmão do nosso pai!
Agora o impacto foi maior, pois, essa ninguém esperava, os dois jovens engenheiros criminosos, agora tinham de arcar com as conseqüências pela justiça que fizeram com as próprias mãos.
Clodoaldo, literalmente apavorado, vendo Carlos e Sílvia terrificados com mais aquele fato, desabafa em altos brados:
Isso não é possível, pois, vocês não assassinaram seu tio, Clodomir era o pai verdadeiro de vocês dois...
Réus primários, ficaram pouco tempo presos por explodirem e matarem Coração de pedra, mais seus capangas que estavam no interior daquele veículo etc...

"Apesar do mundo em que vivemos, e da precária justiça que possuímos, ainda assim, jamais façamos justiça com nossas próprias mãos!"
O autor.

Obra: Romance.
j.b.campos

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